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FATOR TRANSFORMADOR

Eu sempre tive um desejo desenfreado de ser estrangeira e, bueno, finalmente eu sou, pelo menos temporariamente. E, devo confessar, a pior parte é estar tão longe da minha língua materna. Eu era louca para deixar de falar português no meu dia-a-dia e agora, por incrível que pareça, meu maior desejo é sair na rua e ouvir um “Bom dia!”. É engraçado como sua mente se fadiga quando o esforço para entender tende a ser redobrado. E quando se tem que ir a escola então... Bom, vale a pena! Eu seria uma imbecil se dissesse que tudo isso está sendo jogado ao vento.

Sou intercambista e esse é um título que eu venho buscando receber há anos. E agora que estou vivendo isto, tenho notado algumas coisas. A diferença exageradamente notável entre um estudante em seu ambiente comum e um estudante intercambista, é que há mais pressão sobre o segundo. É interessante como seu corpo, sua mente, seu coração, sua alma, seus sentimentos, sua visão ( no sentido figurado), sofrem uma transformação de tirar o fôlego.

No início tudo que você quer é voltar para casa. Você se pergunta o que raios está fazendo, mas, acredite, não tem volta. E então vem o primeiro dia. Eu estou na Costa Rica há quase duas semanas e, pelo menos pra mim, devo confessar, o dia mais difícil, até agora, foi quando completou exatos sete dias de que estou longe não só da minha família e da minha casa, mas do meu país. O primeiro dia, o segundo e talvez o terceiro, são, na maioria das vezes, os mais tranquilos, pelo simples fato de que a ficha ainda não caiu. Mas do quinto dia pra frente, as coisas começam a tomar forma.

A responsabilidade nasce daí, e é nesse ponto que eu queria chegar. Ela nasce no exato momento em que você olha para os dois lados e só vê a si próprio. Agora você cuida da sua própria cabeça e a atenção é em dobro, porque em terra de cego quem vê é rei. E esse é um desafio interessante, porque, estando sozinho, você se conhece e cresce. Eu tenho aprendido de que tudo, tudo mesmo, só depende de nós mesmos. Um escritor não espera alguém segurar em sua mão. Toma, ele próprio, a caneta e redige seus pensamentos.

A dependência é um estado terrível. Há os que, por simples falta de opção, padecem dela; outros, claro, por puro eufemismo, acham melhor não andarem com as próprias pernas, sempre precisando do auxílio de outrem. O que me ocorre agora, é que é necessário aprender a andar o quanto antes, para que depois não se torne um adulto engatinhando por aí. E o pior é que por mais determinado que você seja, a vida vai te lapidar e, por vezes, dói.

Responsabilidade e independência são duas palavras que jamais podem estar separadas. Para ter a segunda, é preciso a primeira. E vice-versa. Não se aprende a ser responsável debaixo da sombra de alguém, é preciso ir além dela. E uma vez independente, a responsabilidade é tão necessária quanto o oxigênio.


É claro que quando se fala de independência e responsabilidade, há aí no meio muitas outras coisas. No entanto, o importante é saber que existem certas situações que vão, talvez, te obrigar a crescer. E por crescer, estou falando sobre amadurecimento. No meu caso, é intrinsecamente satisfatório saber que o intercâmbio tem sido esse fator transformador.

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