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O CONTO MAIS CURTO DO MUNDO

Pode ser que você não saiba, mas o menor conto do mundo tem apenas seis palavras e sua autoria é atribuída a Ernest Hemingway. Sim. Ao contrário daqueles longos contos, o de Hemingway não tem nada mais e nada menos do que six words.

For sale: Baby Shoes, never worn.

Em português: Vende-se: Sapatos de bebê, nunca usados.

Contam que Hemingway foi desafiado a contar uma história com apenas seis palavras e voilá, eis que nasce esse intrigante conto. Intrigante porque a princípio, lido rapidamente, não parece significar muita coisa, mas existe aquilo, pelo menos para os leitores mais viciados, de se imaginar o que aconteceu antes do início e depois do fim. Imaginando, então, o que teria precedido essa venda, pensa-se logo na gravidez – a alegria, talvez, do primeiro filho(a), os preparativos, a expectativa - depois o nascimento e, então, a morte. Claro que poderíamos concluir também que os pais da criança colocaram o sapato à venda talvez por terem ganhado muitos, mas logo percebemos que essa conclusão não faz o menor sentido, já que não se vende um presente, o mínimo a se fazer é guardar.

Portanto, infelizmente, a conclusão mais racional a se fazer é que se trata de uma tragédia, o conto que, a princípio, não significava quase nada. Sapato de bebê, nunca usado. Nunca usado. Com certeza essa é a parte mais comovente. A mãe teve todas as suas expectativas jogadas ao vento e, numa tentativa de se livrar de tudo que a lembra da tragédia, ela coloca o sapatinho, do bebê, à venda. Uma maneira estranha, mas poética, de se consolar.

Mas é um conto tão curto e tão profundo, certo? Será possível ter vindo ao acaso na cabeça do autor, no momento em que foi desafiado?

Bom, a edição de 16 de maio de 1910 da The Spokane Press continha um artigo intitulado: “Tragedy of Baby's Death is Revealed in Sale of Clothes.” No entanto, em 1910, Hemingway tinha apenas dez anos e, sim, talvez, ele tenha lido e guardado o artigo com ele, mas, convenhamos, ele iniciou a carreira quase onze anos depois, e o desafio foi-lhe proposto bem mais tarde, será que, naquele exato momento, ele se lembrou do que, talvez, tenha lido quando ainda era um menino?  

Enfim, de qualquer maneira, sendo ele o autor ou não desse conto, tendo ele improvisado na hora ou não, não importa. O fato é que precisa ser um escritor daqueles, para conseguir ser conciso em apenas seis palavras. Assim como se precisa ser um leitor bem atento, para notar a profundeza de contos como este.

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